2016
Aproveito a doença e a histeria
Pra eriçar os pelos do corpo
Fazer vibrar vértebra por vértebra
Entranhar nos meus buracos os dedos sujos da rua e a solidão que trago com ela
A fumaça impura das bocas maltratadas
Mordidas e beijos cheirando a buceta de todas as esquinas
O egoísmo e o sexo
O asfalto tremendo com as rodas dos carros
Um tesão intenso a uma da manhã pelos bêbados dentro, dentro, dos carros
Qual a diferença entre dedos e carros?
domingo, 24 de julho de 2016
2016
Sou porque preciso levantar todos os dias
Da cama
E enfrentar os barulhos dos carros
E as pequenas palpitações
As pessoas pretendem ter coisas
E fazer caridade para limpar a alma
Tenho longos anos de uma vida morna
As instituições me perseguem
Enquanto eu amarro os sapatos
Ser adulto exige muito do corpo
Por isso procuro rir e dançar com frequência
Assim comigo mesma
Porque o outro é sempre mais difícil comigo
Queria dormir melhor
Para poder lembrar dos sonhos mais vezes
E com mais detalhes
Poder escapar
Dos dias repetidos
Um pé depois do outro
Um pé depois do outro
Um pé depois do outro...
Sou porque preciso levantar todos os dias
Da cama
E enfrentar os barulhos dos carros
E as pequenas palpitações
As pessoas pretendem ter coisas
E fazer caridade para limpar a alma
Tenho longos anos de uma vida morna
As instituições me perseguem
Enquanto eu amarro os sapatos
Ser adulto exige muito do corpo
Por isso procuro rir e dançar com frequência
Assim comigo mesma
Porque o outro é sempre mais difícil comigo
Queria dormir melhor
Para poder lembrar dos sonhos mais vezes
E com mais detalhes
Poder escapar
Dos dias repetidos
Um pé depois do outro
Um pé depois do outro
Um pé depois do outro...
2016
Notas doces
Caramelizadas
Ecoando, velhas, do piano
A madeira escura, sombria
Guarda memórias de toques outros
De outras vidas
De outros tempos
Andante
Dolce
Canta suave a saudade
Chora baixinho
E faz trovoada
O som dos meus dedos
Paternais
A reger a melodia confiante
Que é como um grande coração
A pulsar forte
Vibrando pelo corpo do cômodo
Adentrando imediatamente meus ouvidos
Que respondem com os dedos
Determinados
Continuamente
Tocar ouvir tocar
Sentir de todo
Um bicho da seda enorme
Sentado numa cadeira
Aperta o pedal
Vem a melancolia
E o som da chuva
Uma chave é capaz de abrir-te
E revelar teus segredos todos
Caixa de Pandora
Borboletas mortas lá dentro
Vem a raiva
E o choro
E toco forte
Para a floresta toda ouvir
Como é triste o meu piano
Como é louco!
Notas doces
Caramelizadas
Ecoando, velhas, do piano
A madeira escura, sombria
Guarda memórias de toques outros
De outras vidas
De outros tempos
Andante
Dolce
Canta suave a saudade
Chora baixinho
E faz trovoada
O som dos meus dedos
Paternais
A reger a melodia confiante
Que é como um grande coração
A pulsar forte
Vibrando pelo corpo do cômodo
Adentrando imediatamente meus ouvidos
Que respondem com os dedos
Determinados
Continuamente
Tocar ouvir tocar
Sentir de todo
Um bicho da seda enorme
Sentado numa cadeira
Aperta o pedal
Vem a melancolia
E o som da chuva
Uma chave é capaz de abrir-te
E revelar teus segredos todos
Caixa de Pandora
Borboletas mortas lá dentro
Vem a raiva
E o choro
E toco forte
Para a floresta toda ouvir
Como é triste o meu piano
Como é louco!
Protótipo de Instalação
2016
Toco minha vulva que
empresta ao dedo sua superfície:
Uma obra de Yayoi Kusama ou Louise Bourgeois
Distantes e mesmas
Repetindo em falos, faltas
Uma almofada gigante rosa
Cheia de gel
Muitas pessoas se esfregando
Entrando, brincando
Na vagina-mãe
É escuro e quente
É próximo do útero
O saudoso útero
Lar-primeiro
Várias pessoas juntas
Dentro
Se tocando, apertadas
Desconfortáveis
Nem todas
Uma criança
Perdida
Pele
2015
Como poderei livrar-me da minha pele?
Da minha roupa de cada dia?
Não nasci nua
Nasci vestida de pele
Essa mesma que carrego desde o ventre
Com células remanescentes
E outras renovadas
A mesma que carregarei até o
Instante
Em que os sentidos se apagarão
E no silêncio do escuro
Restará de alimento a outros espíritos
Selvagens
Pele
Reduto de memórias
Toco, tateio
Minhas marcas
Olho a palma da mão
O dedo do pé
Mapa de estrelas
Pintas
Encruzilhadas
Como poderei livrar-me da minha pele?
Da minha roupa de cada dia?
Não nasci nua
Nasci vestida de pele
Essa mesma que carrego desde o ventre
Com células remanescentes
E outras renovadas
A mesma que carregarei até o
Instante
Em que os sentidos se apagarão
E no silêncio do escuro
Restará de alimento a outros espíritos
Selvagens
Pele
Reduto de memórias
Toco, tateio
Minhas marcas
Olho a palma da mão
O dedo do pé
Mapa de estrelas
Pintas
Encruzilhadas
2015
Quando o sol vai ficando frio
E azul
Tudo se ilumina de claridez
E, por um momento,
As coisas parecem escapar de suas matérias
E o mundo todo respira
Um globo de luz se escondendo nas montanhas
Indo embora apressado
Tudo ainda claro,
Frio e azul
O verde das plantas é envolto no azul
O meu corpo,
Dividido em luz e sombra,
Emana um branco azulado...
As coisas no paraíso devem ter essa luz
Quando o sol se despede dessa terra
Deixa aqui os raios do seu mistério
O mundo inteiro, então, flutua
Enquanto aguardamos a melancolia da noite
Quando as cores escurecem
E minha alma esvazia
Quando o sol vai ficando frio
E azul
Tudo se ilumina de claridez
E, por um momento,
As coisas parecem escapar de suas matérias
E o mundo todo respira
Um globo de luz se escondendo nas montanhas
Indo embora apressado
Tudo ainda claro,
Frio e azul
O verde das plantas é envolto no azul
O meu corpo,
Dividido em luz e sombra,
Emana um branco azulado...
As coisas no paraíso devem ter essa luz
Quando o sol se despede dessa terra
Deixa aqui os raios do seu mistério
O mundo inteiro, então, flutua
Enquanto aguardamos a melancolia da noite
Quando as cores escurecem
E minha alma esvazia
sábado, 23 de julho de 2016
2015
Quando me olhei no espelho, me vi do outro lado.
Desse lado, me olhei do outro lado.
Do outro lado, me vi desse lado.
Ora aqui, ora ali, observei-me.
Disse ao eu do outro lado que o amava.
Chorei do outro lado. De gratidão.
Disse ao eu desse lado que o amava também. Beijei-o ternamente.
Desse lado, me despedi, fui até o espelho distinto onde nada me pertencia. Sentei sobre o parapeito e me pus a contemplar.
Do outro lado, resguardei-me no vazio, a esperar o próximo encontro.
Quando me olhei no espelho, me vi do outro lado.
Desse lado, me olhei do outro lado.
Do outro lado, me vi desse lado.
Ora aqui, ora ali, observei-me.
Disse ao eu do outro lado que o amava.
Chorei do outro lado. De gratidão.
Disse ao eu desse lado que o amava também. Beijei-o ternamente.
Desse lado, me despedi, fui até o espelho distinto onde nada me pertencia. Sentei sobre o parapeito e me pus a contemplar.
Do outro lado, resguardei-me no vazio, a esperar o próximo encontro.
2014
Vejo pessoas no ar
Construo cenas no vazio
Eu fantasio
Falo com as paredes
Danço pro espelho
Vou levando a vida de fora
E a vida de dentro
Finjo ser borboleta
Me fecho em meu casulo
Onde posso ser o que quiser
Fico a imaginar o céu azul
A liberdade do azul
Crisálida,
Aos poucos vou metamorfoseando
Espero, só, o momento de abrir-me ao mundo
Enquanto isso, sinto o sol
Amadurecer-me
Do lado de fora
Não há ilusões ou expectativas
Vejo pessoas na rua
Cenas se constroem diante dos meus olhos
O espaço é cheio, completo
Sou preenchida
Memorizo o cheiro das plantas
As asas se formam
Voo livre, calma
Tenho um dia inteiro de vida
Vejo pessoas no ar
Construo cenas no vazio
Eu fantasio
Falo com as paredes
Danço pro espelho
Vou levando a vida de fora
E a vida de dentro
Finjo ser borboleta
Me fecho em meu casulo
Onde posso ser o que quiser
Fico a imaginar o céu azul
A liberdade do azul
Crisálida,
Aos poucos vou metamorfoseando
Espero, só, o momento de abrir-me ao mundo
Enquanto isso, sinto o sol
Amadurecer-me
Do lado de fora
Não há ilusões ou expectativas
Vejo pessoas na rua
Cenas se constroem diante dos meus olhos
O espaço é cheio, completo
Sou preenchida
Memorizo o cheiro das plantas
As asas se formam
Voo livre, calma
Tenho um dia inteiro de vida
Angústia Anatômica
2014
No âmago do meu estômago
Estranho e amargo
As mágoas se embrulham
Borbulham
Se acumulam as lágrimas
Nunca roladas
Interiorizadas, agoniadas
Corroendo minhas paredes gástricas
Se tornando um tornado de tormentas
Junto ao alimento em digestão
Bolo furioso de matéria sentimental
A angústia penetra meu sangue feito verme
Rasteja por entre hemácias e plaquetas
Deixa escorrer a gosma fria
Viscosa, viciosa
A dor perfura meus pulmões
Preenche os alvéolos d'água
Dissolve a vida em dois tempos -
Um
Sufoca, me afoga
Trai, me transborda
Não consigo respirar
Não consigo olhar à frente
Os olhos estão encharcados
A fronte pálida, contraída:
Contra a ida de encontro ao nada
A garganta seca arde
Eu tusso
Dois -
Eu cuspo a ânsia
A azia passa
Eu vomito melancolia
O resto, excreta o reto
No âmago do meu estômago
Estranho e amargo
As mágoas se embrulham
Borbulham
Se acumulam as lágrimas
Nunca roladas
Interiorizadas, agoniadas
Corroendo minhas paredes gástricas
Se tornando um tornado de tormentas
Junto ao alimento em digestão
Bolo furioso de matéria sentimental
A angústia penetra meu sangue feito verme
Rasteja por entre hemácias e plaquetas
Deixa escorrer a gosma fria
Viscosa, viciosa
A dor perfura meus pulmões
Preenche os alvéolos d'água
Dissolve a vida em dois tempos -
Um
Sufoca, me afoga
Trai, me transborda
Não consigo respirar
Não consigo olhar à frente
Os olhos estão encharcados
A fronte pálida, contraída:
Contra a ida de encontro ao nada
A garganta seca arde
Eu tusso
Dois -
Eu cuspo a ânsia
A azia passa
Eu vomito melancolia
O resto, excreta o reto
Na Banheira
2014
Debaixo da água
Sou/estou em uma sopa de mim mesma
Em que pele viva e pele morta se misturam diluídas numa mesma matéria
Meu corpo submerge minhas angustias
Que com o sonolento fechar dos olhos evaporam
E por um breve momento tenho a sensação de paz
Minhas pernas já dormentes sonham
A respiração uma vez ofegante agora é como uma pluma num céu límpido
Que flutua devagar rumo ao chão
Minha mente esta em plena harmonia com o espaço
De olhos ainda fechados me enxergo de longe, em transe
Em fase de purificação e transcendência
A pele renovada ganha outra textura
É resistente as impurezas do mundo
Me protege da dor intangível
É uma capa quente de sensações claras
A consciência se perde no ar até que quando essa dança de oscilações atinge o solo, eu abro os olhos e sou um alguém mais firme, ao mesmo tempo mais leve.
Debaixo da água
Sou/estou em uma sopa de mim mesma
Em que pele viva e pele morta se misturam diluídas numa mesma matéria
Meu corpo submerge minhas angustias
Que com o sonolento fechar dos olhos evaporam
E por um breve momento tenho a sensação de paz
Minhas pernas já dormentes sonham
A respiração uma vez ofegante agora é como uma pluma num céu límpido
Que flutua devagar rumo ao chão
Minha mente esta em plena harmonia com o espaço
De olhos ainda fechados me enxergo de longe, em transe
Em fase de purificação e transcendência
A pele renovada ganha outra textura
É resistente as impurezas do mundo
Me protege da dor intangível
É uma capa quente de sensações claras
A consciência se perde no ar até que quando essa dança de oscilações atinge o solo, eu abro os olhos e sou um alguém mais firme, ao mesmo tempo mais leve.
2014
Agrupamento de moléculas ambulante
Matéria orgânica andante
Corpo estranho, corpo meu
Cérebro emaranhado
Coração pulsante
Pele sensível
Feito minhas emoções
Aberta ao mundo
Corpo mórfico
Pensamentos instáveis
Deixo a realidade me atingir
Me acarinhar ou me ferir
Deixo ser e existir
Olho meus pés de cima
Olho-me no espelho
Me reconheço
Sou Deus em carne e osso
Sou meu próprio deus
Corpo transcendente
Alma toda espiritual
Minhas mãos imperfeitas
Modelam a realidade
Minha essência metamórfica
Modifica órbitas gravitacionais
Me permito a introspecção
O olhar reconhece a imensidão
A imperfeição perfeita
A eterna transformação
Reações químicas capazes de loucura
Energia que emana dos poros
Ser humano essencial
Vivo, poético, alérgico
À solidão e ao abandono
Lágrima salgada escorre
Lubrifica o espírito
Pousa no solo
E se cala
A arte me envolve e abençoa
Eu oro, eu choro
Animal misericordioso,
Ocasional...
Agrupamento de moléculas ambulante
Matéria orgânica andante
Corpo estranho, corpo meu
Cérebro emaranhado
Coração pulsante
Pele sensível
Feito minhas emoções
Aberta ao mundo
Corpo mórfico
Pensamentos instáveis
Deixo a realidade me atingir
Me acarinhar ou me ferir
Deixo ser e existir
Olho meus pés de cima
Olho-me no espelho
Me reconheço
Sou Deus em carne e osso
Sou meu próprio deus
Corpo transcendente
Alma toda espiritual
Minhas mãos imperfeitas
Modelam a realidade
Minha essência metamórfica
Modifica órbitas gravitacionais
Me permito a introspecção
O olhar reconhece a imensidão
A imperfeição perfeita
A eterna transformação
Reações químicas capazes de loucura
Energia que emana dos poros
Ser humano essencial
Vivo, poético, alérgico
À solidão e ao abandono
Lágrima salgada escorre
Lubrifica o espírito
Pousa no solo
E se cala
A arte me envolve e abençoa
Eu oro, eu choro
Animal misericordioso,
Ocasional...
Cactus Solitarius
2014
Minha flor do deserto
Tão rara, tão linda
Te observo na areia árida:
Tão sozinha e tão única
Ao longe no silêncio te admiro
Espero para te ver se abrir
No tempo infinito de um suspiro
Aguardo o seu florescer sorrir
Seu cheiro é cheio de doçura
Eu respiro e me aproximo esperançosa
Mas seu espinho me espeta, me fura
Fere a pele de leve, sem intenção
Eu choro calada, que salgada ilusão
Só se escuta o vento
Num assobio melancólico e atento
A mover tão facilmente as dunas
Dançando eternamente na solidão
Desmanchando aos poucos meu coração
Que faço pra ter-te por completo?
Meu peito por você, minha flor, é de amor repleto
Por isso tento chegar cada vez mais perto
Para ver se um dia me contas um segredo cor-de-rosa
Me convida para seu casulo colorido e me ensina a magia das flores, das cores e dos amores...
Minha flor do deserto
Tão rara, tão linda
Te observo na areia árida:
Tão sozinha e tão única
Ao longe no silêncio te admiro
Espero para te ver se abrir
No tempo infinito de um suspiro
Aguardo o seu florescer sorrir
Seu cheiro é cheio de doçura
Eu respiro e me aproximo esperançosa
Mas seu espinho me espeta, me fura
Fere a pele de leve, sem intenção
Eu choro calada, que salgada ilusão
Só se escuta o vento
Num assobio melancólico e atento
A mover tão facilmente as dunas
Dançando eternamente na solidão
Desmanchando aos poucos meu coração
Que faço pra ter-te por completo?
Meu peito por você, minha flor, é de amor repleto
Por isso tento chegar cada vez mais perto
Para ver se um dia me contas um segredo cor-de-rosa
Me convida para seu casulo colorido e me ensina a magia das flores, das cores e dos amores...
Esperança e Morte
2013
Ouvem-se abafados trotes ao longe
Do cavalgar de um negro cavalo
A seu lado andava um monge
E estava uma pálida dama nele montada
Dos olhos escuros qual noite profunda
O olhar indiferente tudo via
A pisotear a terra mais imunda
Avançava a sombria cavalaria
A dama vestia o breu
E o monge uma branca túnica
O cobria um finíssimo véu
De uma seda delicada, única
No horizonte uma moça avista
A face da morte a galopes lentos
A esperança aos poucos perde-se de vista
Esvai-se o mais puro dos sentimentos
O cavalo estrada abaixo caminha
O monge fatigado pra trás vai ficando
A dama de preto paciente vinha
Enquanto a moça morria esperando
Ao aproximar-se a dama da morte
Na moça, credos confusos se contorcem
De angúsia se fecha seu corpo, antes forte
De ânsia, rugas à face lhe aparecem
Está agora nua
O corpo envelhecido é dor
E ao reluzir da lua
A alma, porém, é toda amor
Os olhos da senhora agora cerram
A noite adentrando
A cavalaria no escuro chegando
E ela esperando
Esperando!
Esperando...
2014
Na solidão do meu ser,
No vazio da desesperança,
Nas profundezas do meu sentir,
Mora a saudade.
Elá está presente em cada poeira do meu existir,
Tudo que me rodeia é preenchido dela,
Cada espaço que atinge meu olhar,
O infinito de cada dia.
Saudade cheia de melancolia,
De solitude,
Principalmente cheia de amor,
Amor transbordado.
Uma poça rasa e límpida,
Um rastro tênue no asfalto,
Um reflexo de minhas memórias,
Sempre minhas,
Somente minhas!
2014
Os insetos dançam frenéticos
Na escuridão
Uma confusão de zumbidos
Gritantes
Você está no centro do vazio
Preenchido de que?
Escute o som disrítmico
Olhe o vôo louco dos invertebrados
Está tão escuro
Eles se movimentam em órbitas desordenadas
O acaso rege a orquestra
E você é o caroço da música
Existindo
Animalesco
No centro do abismo
2013
Os cantos estão cheios de lágrimas
Nas quinas há pequenas poças
No lençol há gordas gotas
O parapeito da janela é úmido
Úmido de dor e sofrimento
Sofrimento de amor sincero
Sincero, saudoso e solitário
Escondido nos cantos das salas
Encolhido nas frestas das portas
Que agora se abrem
Para mais uma vez
Um coração doído, duro e desconfiado
Voar tímido e se aventurar
Os cantos estão cheios de lágrimas
Nas quinas há pequenas poças
No lençol há gordas gotas
O parapeito da janela é úmido
Úmido de dor e sofrimento
Sofrimento de amor sincero
Sincero, saudoso e solitário
Escondido nos cantos das salas
Encolhido nas frestas das portas
Que agora se abrem
Para mais uma vez
Um coração doído, duro e desconfiado
Voar tímido e se aventurar
2013
Estou preenchida de sofrimento.
Meu corpo reverbera minha amargura:
Está fraco e decepcionado:
Vaga pelos cômodos sem razão.
Minha dor agora pesa nas costas
Por onde quer que eu ande.
Meus passos são longos e pesados
Meu peito foi esfaqueado,
Está agora aberto às impurezas,
Meu coração foi esfarelado
E jogado na imensidão do mar.
O céu foi pintado de vermelho:
Cor do sangue que jorra desse corpo:
Um corpo que aos poucos vai morrendo.
E deixando pra trás uma poça de desesperança.
Estou preenchida de sofrimento.
Meu corpo reverbera minha amargura:
Está fraco e decepcionado:
Vaga pelos cômodos sem razão.
Minha dor agora pesa nas costas
Por onde quer que eu ande.
Meus passos são longos e pesados
Meu peito foi esfaqueado,
Está agora aberto às impurezas,
Meu coração foi esfarelado
E jogado na imensidão do mar.
O céu foi pintado de vermelho:
Cor do sangue que jorra desse corpo:
Um corpo que aos poucos vai morrendo.
E deixando pra trás uma poça de desesperança.
Saudades-Perpétuas
2013
Tuas pétalas púrpuras
São roxas de saudade
Tuas folhas fúnebres
Pálidas de ansiedade
Ah! Saudades-Perpétuas
Seu espírito alegre
A alma de felicidade repleta...
De repente desmanchou
E agora que com o vento se foi
Me deixou no vazio da solidão
Tirou meu teto, meu chão
Me atirou no jardim do desespero
Deixou-me aqui a morrer
De eternas saudades
Do seu sorriso e seu cheiro
À doces lembranças ter
Fico a contemplar flor tão linda...
Liberaste teu aroma no ar
Após ser atirada no mar
Em meio a preces e sinceros sentimentos
Minha amada flor campestre
Fostes a mais bela de todas!
Mas a dor que tu deixaste
Só o tempo há de curar
Perpétuas saudades, Saudades-Perpétuas,
De sua essência tão pura
Da cor tão excêntrica
E do seu cheiro sorridente!
Ai, minha flor, ó minha flor
Que despetalaste
Esta lágrima é fértil de amor
E de tudo aquilo que representaste
Tuas pétalas púrpuras
São roxas de saudade
Tuas folhas fúnebres
Pálidas de ansiedade
Ah! Saudades-Perpétuas
Seu espírito alegre
A alma de felicidade repleta...
De repente desmanchou
E agora que com o vento se foi
Me deixou no vazio da solidão
Tirou meu teto, meu chão
Me atirou no jardim do desespero
Deixou-me aqui a morrer
De eternas saudades
Do seu sorriso e seu cheiro
À doces lembranças ter
Fico a contemplar flor tão linda...
Liberaste teu aroma no ar
Após ser atirada no mar
Em meio a preces e sinceros sentimentos
Minha amada flor campestre
Fostes a mais bela de todas!
Mas a dor que tu deixaste
Só o tempo há de curar
Perpétuas saudades, Saudades-Perpétuas,
De sua essência tão pura
Da cor tão excêntrica
E do seu cheiro sorridente!
Ai, minha flor, ó minha flor
Que despetalaste
Esta lágrima é fértil de amor
E de tudo aquilo que representaste
Soneto de saudade
2013
Esse aperto no peito que vem de repente
Da lembrança de quem já não mais está
Mas na memória eternamente permanecerá
Junto a essa dor que pulsa no sangue d'agente
Pegou de surpresa esse melancólico sentimento
Recordações de alguém já tão feliz que nos deixou
Por obra de um destino seleto que nos tornou
Escravos desse interminável momento
Por um instante mais
Queria sentir seu carinho
Afeto que não se esquece jamais
A solidão por fim me rodeia
Há de seguir-me por todo caminho
E a saudade tão fria agora passeia
Esse aperto no peito que vem de repente
Da lembrança de quem já não mais está
Mas na memória eternamente permanecerá
Junto a essa dor que pulsa no sangue d'agente
Pegou de surpresa esse melancólico sentimento
Recordações de alguém já tão feliz que nos deixou
Por obra de um destino seleto que nos tornou
Escravos desse interminável momento
Por um instante mais
Queria sentir seu carinho
Afeto que não se esquece jamais
A solidão por fim me rodeia
Há de seguir-me por todo caminho
E a saudade tão fria agora passeia
Soneto de amor
2013
É um mal que sofro
É uma dor que arde
Nem o maior sopro
Atenuá-la pode
É uma angústia corrosiva
Que me destrói aos poucos
É um bicho parasita
Que consome os loucos
É um tiro no peito
É uma doença sem cura
É a morte que espero no leito
E quando o diagnóstico finalizado for
E eu estiver no auge da loucura
Poderei, enfim, morrer de amor
É um mal que sofro
É uma dor que arde
Nem o maior sopro
Atenuá-la pode
É uma angústia corrosiva
Que me destrói aos poucos
É um bicho parasita
Que consome os loucos
É um tiro no peito
É uma doença sem cura
É a morte que espero no leito
E quando o diagnóstico finalizado for
E eu estiver no auge da loucura
Poderei, enfim, morrer de amor
sexta-feira, 22 de julho de 2016
O ser
2012
O ser há e há de ser
Aquele que semea o haver
Que há de vir a ser
A consciência do próprio ser
Será o viver e o morrer
Ser e não-ser
Ser sereno
Não-ser pequeno
Não-ser que não há
Vazio logo será
Ser que, porém, há de ser
Aquele que planta o haver
O ser há e há de ser
Aquele que semea o haver
Que há de vir a ser
A consciência do próprio ser
Será o viver e o morrer
Ser e não-ser
Ser sereno
Não-ser pequeno
Não-ser que não há
Vazio logo será
Ser que, porém, há de ser
Aquele que planta o haver
A tecelã
2013
A tecelã
Na sala vazia
A moça na cadeira senta;
Uma cadeira de palhinha
Que com o tempo se desgasta.
Em sua mão um grande novelo
Vai aos poucos fazendo
As mais belas figuras:
São faces, são arte, são precisos detalhes.
Compenetrada ela tece
As peças mais lindas:
Quatro pequenas meias mede
Pra caber no amor infindo.
O novelo vai tecendo,
Vai gastando, vai cedendo;
Mas a mulher molda com fervor
Um exótico cobertor.
E o novelo vai se esvaindo;
As forças vão se exaurindo;
Do trabalho intenso à acabar,
A senhora cai a cabeça à descansar.
Suas criações de lã,
Tomando vida cobrem
A fatigada tecelã,
Que agora dorme.
O fio então vai desfazendo...
Vai desmanchando;
Lentamente se esgueirando,
O fio vai se acabando.
Do sono a senhora levanta,
De um lado a outro fita a sala:
Um castelo a envolve tal qual manta
E a seus pés quatro meinhas, observa ela.
Com essa imagem sorri;
Com frio se encolhe;
O novelo enfim tem fim
E os olhos são cerrados em paz.
A sala contudo não se desfaz;
A pobre senhora agora dorme em sono eterno,
Mas deixou-nos esse castelo!
Templo de inspiração!
Em meio a amplidão,
Caminhos se perdem na memória,
Passagens que abrem o coração,
Já gélido, da pobre senhora.
No trono a rainha, já morta,
Descansa nas rendas mais finas;
No palco resta essa cena, silenciosa,
E com isso fecham-se as cortinas.
A tecelã
Na sala vazia
A moça na cadeira senta;
Uma cadeira de palhinha
Que com o tempo se desgasta.
Em sua mão um grande novelo
Vai aos poucos fazendo
As mais belas figuras:
São faces, são arte, são precisos detalhes.
Compenetrada ela tece
As peças mais lindas:
Quatro pequenas meias mede
Pra caber no amor infindo.
O novelo vai tecendo,
Vai gastando, vai cedendo;
Mas a mulher molda com fervor
Um exótico cobertor.
E o novelo vai se esvaindo;
As forças vão se exaurindo;
Do trabalho intenso à acabar,
A senhora cai a cabeça à descansar.
Suas criações de lã,
Tomando vida cobrem
A fatigada tecelã,
Que agora dorme.
O fio então vai desfazendo...
Vai desmanchando;
Lentamente se esgueirando,
O fio vai se acabando.
Do sono a senhora levanta,
De um lado a outro fita a sala:
Um castelo a envolve tal qual manta
E a seus pés quatro meinhas, observa ela.
Com essa imagem sorri;
Com frio se encolhe;
O novelo enfim tem fim
E os olhos são cerrados em paz.
A sala contudo não se desfaz;
A pobre senhora agora dorme em sono eterno,
Mas deixou-nos esse castelo!
Templo de inspiração!
Em meio a amplidão,
Caminhos se perdem na memória,
Passagens que abrem o coração,
Já gélido, da pobre senhora.
No trono a rainha, já morta,
Descansa nas rendas mais finas;
No palco resta essa cena, silenciosa,
E com isso fecham-se as cortinas.
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