me inventaria outra tristeza
se pudesse: um sentimento azul
e leve como uma pluma que cai
das asas distraídas de uma gaivota.
minha tristeza não seria uma pedra perdida
em seu própio peso no fundo de um lago,
seria a água próxima à superfície,
invadida pelo calor frio dos primeiros raios.
a água, maleável, furaria a pedra.
minha insistência mole venceria sua crosta dura.
não seria a tristeza um animal despossuído,
vagueando pela floresta em seu delírio circular.
seria um sinal de sã sensibilidade,
seria a possibilidade da beleza.
minha tristeza não seria amarga,
não queimaria a garganta no gesto
de esconder-se, envergonhada.
seria agridoce como as lágrimas:
inclinada às incertezas mais interessantes.
seria um barco a minha tristeza,
seria um porto e um farol.
seria um peixe-espada
pulsando vivo no coração das águas.
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