sábado, 17 de outubro de 2020

me inventaria outra tristeza 
se pudesse: um sentimento azul
e leve como uma pluma que cai
das asas distraídas de uma gaivota.

minha tristeza não seria uma pedra perdida 
em seu própio peso no fundo de um lago,
seria a água próxima à superfície,
invadida pelo calor frio dos primeiros raios.

a água, maleável, furaria a pedra.
minha insistência mole venceria sua crosta dura.

não seria a tristeza um animal despossuído,
vagueando pela floresta em seu delírio circular.
 seria um sinal de sã sensibilidade,
seria a possibilidade da beleza.

minha tristeza não seria amarga,
não queimaria a garganta no gesto
de esconder-se, envergonhada.
seria agridoce como as lágrimas:
inclinada às incertezas mais interessantes.

seria um barco a minha tristeza,
seria um porto e um farol.
seria um peixe-espada
pulsando vivo no coração das águas.


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