sim, eu sou um monstro
um monstro bem cabeludo
cínico e sensual
antes de me travestir de bicho dócil
eu sou esse monstro
vívido, animal
caminho na superfície
como bicho são
dono da razão
peito aberto pras praças
e a torneira escura
jorrando água
até alagar o pátio inteiro
na enchente me desacho de mim
encontro o monstro
em sua crueza natural
e dou a mão a ele
pra ver se nos salvamos
desse dilúvio matinal
o descaso vaidoso do bicho
não percebe que
antes de ser presa
é ele o predador
e segue casualmente
em sua casualidade casual
de bicho tolo panaca
que esqueceu a sua força e seu brilho
nos pelos cintilantes e sedosos do monstro
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