é uma arte que desconheço a de parir-me sem esforço
como o caranguejo que emerge novo da casca
a pele ardendo por não caber mais em sua couraça
a proteção da casa é arma de caça: garra avantajada
pois se não pode ficar em sua toca
e tem de sair às riscas mar a fora
com todo o perigo que ali mora
poderá se defender das marinhas ameaças
submersa
aprendo a sair do casulo com menos desconfiança
tendo coragem de encarar os medos
as dores e as tristezas possíveis
que se inventam nas bifurcações
imensa
emersa
quero viver
o movimento das águas
quero amar uma cabra com calda de sereia
quero fazer do oposto ascendente
um desafio que faz crescer
quero estar inteira pro amor
como devo estar, sei que devo estar
por isso me banho em sal
a pele ardendo no desconhecido
apesar da tristeza aguda
que desponta da reconhecida
mordida que dei no amor e
da incerteza que se segue...
o perdão flutuando com as algas
a dúvida aflorando verde
a maré subindo com a visão
do sofrimento causado
imunda
e mansa
lua crescente em escorpião,
ampara meu coração aguado
dá colo pras filhas que sofrem
de feridas profundas
acolhe o meu amor
do outro lado
e traz leveza com sua gravidade
com sua certeza de transformação
acolhe o meu bem
acolhe o pranto,
mãe noturna das profundezas impuras
me inunda
e imanta
permita-me
renovar
respirar
reparar
seguir
despreparada
amparada
ma(i)s atenta
e atenciosa
mar a fora
mais a fora
mesmo dentro
sempre funda
mais aflora
mar a dentro
mais afunda
a imensa flora
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