Dói.
a saudade me atravessando,
apocalíptica.
Depois do Adeus definitivo
travestido de tantos outros.
Você na espera do ônibus,
eu com o coração na mão
(pronta a te entregar).
Guardo uma coragem doída
que do fundo do meu ser
alcanço.
Com ela te dou um último beijo,
te deixo ali
e vou, seca,
na minha bicicleta,
pedalando os adeus,
um após o outro.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
Os fios que deixei na parede do seu boxe
como uma pintura de Miró
em um museu em alguma cidade
do centro do mundo:
Miró
e eu
e a geometria fluída
dos fios que pintam
as telas e as paredes
dos boxes:
e você e suas linhas curvas
de sabedoria e de abundância
(porque a vida não é pouco camarada):
O brilho dos teus olhos me devora por dentro.
A sua fome larga de experiências,
as redes e os caminhos e os nós,
o nós que estamos a tecer,
é a carne tesa que alimenta o entre -
esse emaranhado de silêncios desejantes.
As linhas são mais gentis sem as pontas
que moldam os calendários,
quando traçam suaves seu rumo por entre as memórias -
dançando uma música doce
(que toca quando te vejo).
Os pontos que determinam as pausas,
como paredes que dividem espaços,
são esses que ritmam os versos,
plainando
entre as imagens que surgem
vibráteis
e cegas
Orquestrar poesia
é como pintar
sentindo o rumo das palavras.
Como se elas conduzissem
a melodia
a partir
do maestro.
Te amar é como amar a vida,
Kandinsky e morangos:
dá vontade de mastigar cada detalhe
com o coração na boca.
Amanhã é o último dia do ano,
mas de que adianta contar?
É sempre o primeiro
ou não é nada.
É só o rumo das coisas
que nos desenham a partir de nós.
Eu fico pensando em vc enquanto vc não me responde a mensagem no instagram
E fico pensando porque eu tô pensando em vc
Mas eu não consigo explicar
Eu sei que a gente flerta no instagram e eu gosto muito que vc venha me perguntar algo óbvio só pra gente continuar trocando mensagens ao longo dos dias
Pra não perder esse flerte bom que não sabe se é flerte mas com certeza é
Eu gosto da palavra flerte e da atividade que ela remete
Todo um mistério um não sabido um será
Uns olhares de propósito e uns assuntos de propósito e alguma sinceridade transbordando as 4 da manhã
E aí é inevitável pensar em vc me pressionando contra a parede
E em algum carinho após o sexo
Eu sempre acabo conversando sobre a infância após o sexo
É vc no mais aberto e juvenil que poderia ser
Quando é sincero, claro
E te deixa feito uma flor desabrochada
No mais riso infantil que poderia ser
E vc já tem esse riso mesmo sem sexo nem nada
atravesso o túnel
1
a memória do túnel me atravessa: eu lia um livro na janela e pensava tão aviadamente em estar lendo um livro na janela que a lembrança fez-se amarela como a luz do túnel na janela do ônibus eu lia um livro atravessando um túnel e depois outro para ir a faculdade agora é noite e a claridade do túnel me atravessa apenas uma vez aí eu viro a direita com o ônibus, subo a montanha cosme velho e desço até chegar na urca lendo poesia traduzida do polonês com um frio engraçado na barriga pensando estar num ônibus lendo um livro de poesia e olhando em volta e pensando estou aqui me sinto viva
2
ainda não encontrei clara a saga de ulisses continua num ônibus passando por sobre a ponte vendo a ilha com o terceiro olho onde uma mureta recosta nas margens da baía cheia de peixes e barcos e águas claras clara já está lá eu me atrasei a espera do ônibus reconheço o motorista que parece um monje tibetano a ilha mora dentro de mim enquanto não chega ao olhar do ônibus que antevê meu caminho antes de mim estou aqui nesse receptáculo ar condicionado e o monge parou e saltou pra tomar um café o tempo dele é outro criado nas montanhas e clara me espera e atravesso farmácias luminescentes e escrevo pra ver se o frio passa da barriga e chego na praia a ilha se aproxima da vista pirata do monge eu não gosto de me atrasar mas sempre trago um livro pra tornar a espera menos nervosa que assim esqueço de roer as unhas eu tento descobrir a filosofia oriental mas a vida na cidade me faz roer as unhas sem conseguir parar um dia eu chego lá por enquanto quero apenas chegar a clara e seu barquinho de papel de jornal 3
voltei num carro preto sobre o silêncio das rodas no asfalto andei a mesma rua, a mesma curva até chegar em casa pensei em como o outro é espelho que os olhos de bicho noturno de clara denunciavam seu sono sua exaustão mas de como persistiu contando-me de sua viagem pra são francisco e a vontade de afastar-se dos pais eu falei tempos sobre o i ching e coletivo seus putos eu falava de mim ela falava dela e eu não sabia o que havia no entre além dos olhares dos beijos e das baratas e claro da solitária garrafa de cerveja talvez nenhuma de nós esteja pronta para se apaixonar mas estamos as duas descobrindo a solidão do próprio corpo mesmo perto de outro corpo desconhecido abismal e pleno em sua (in)certeza indecifrável de oráculo 4
reservo à podridão os meus cheiros íntimos tenho uma dor no peito e uma tosse que me dizem que desaprendi a respirar clara falou em acupuntura e eu gostei mesmo da ideia
a memória do túnel me atravessa: eu lia um livro na janela e pensava tão aviadamente em estar lendo um livro na janela que a lembrança fez-se amarela como a luz do túnel na janela do ônibus eu lia um livro atravessando um túnel e depois outro para ir a faculdade agora é noite e a claridade do túnel me atravessa apenas uma vez aí eu viro a direita com o ônibus, subo a montanha cosme velho e desço até chegar na urca lendo poesia traduzida do polonês com um frio engraçado na barriga pensando estar num ônibus lendo um livro de poesia e olhando em volta e pensando estou aqui me sinto viva
2
ainda não encontrei clara a saga de ulisses continua num ônibus passando por sobre a ponte vendo a ilha com o terceiro olho onde uma mureta recosta nas margens da baía cheia de peixes e barcos e águas claras clara já está lá eu me atrasei a espera do ônibus reconheço o motorista que parece um monje tibetano a ilha mora dentro de mim enquanto não chega ao olhar do ônibus que antevê meu caminho antes de mim estou aqui nesse receptáculo ar condicionado e o monge parou e saltou pra tomar um café o tempo dele é outro criado nas montanhas e clara me espera e atravesso farmácias luminescentes e escrevo pra ver se o frio passa da barriga e chego na praia a ilha se aproxima da vista pirata do monge eu não gosto de me atrasar mas sempre trago um livro pra tornar a espera menos nervosa que assim esqueço de roer as unhas eu tento descobrir a filosofia oriental mas a vida na cidade me faz roer as unhas sem conseguir parar um dia eu chego lá por enquanto quero apenas chegar a clara e seu barquinho de papel de jornal 3
voltei num carro preto sobre o silêncio das rodas no asfalto andei a mesma rua, a mesma curva até chegar em casa pensei em como o outro é espelho que os olhos de bicho noturno de clara denunciavam seu sono sua exaustão mas de como persistiu contando-me de sua viagem pra são francisco e a vontade de afastar-se dos pais eu falei tempos sobre o i ching e coletivo seus putos eu falava de mim ela falava dela e eu não sabia o que havia no entre além dos olhares dos beijos e das baratas e claro da solitária garrafa de cerveja talvez nenhuma de nós esteja pronta para se apaixonar mas estamos as duas descobrindo a solidão do próprio corpo mesmo perto de outro corpo desconhecido abismal e pleno em sua (in)certeza indecifrável de oráculo 4
reservo à podridão os meus cheiros íntimos tenho uma dor no peito e uma tosse que me dizem que desaprendi a respirar clara falou em acupuntura e eu gostei mesmo da ideia
Você me penetra tão fundo
que sinto
como se chegasse
nas minhas costelas,
entrasse
órgãos acima do ventre,
indo
além do músculo pulsante,
chegando
à parte dura do corpo,
aquela que sustenta, e
torna possível a respiração.
Olho para você no escuro
e fico maravilhada
pela sua beleza de
menino maduro.
Penso que poderíamos ter 50 anos e teríamos o mesmo silêncio ritmado entre as palavras.
Mas temos 20 e ainda não deixamos completamente a adolescência.
No entanto,
é uma sensualidade firme que você emana,
como uma maçã pronta a ser colhida do pé.
Entre as pausas concentradas
de um quase gozo,
o desejo cresce
minguando,
respirando fundo
pra retomar o fôlego
e começar novamente.
Penso poesia enquanto
toco seu rosto com meus cabelos
penso sempre poesia
você é sempre poesia
em doses ritmadas
de intensidade
você faz música com o corpo inteiro
e eu penso sempre poesia
você é todo poesia
da cabeça aos pés.
Entre as pausas concentradas
de um quase gozo,
o desejo cresce
minguando,
respirando fundo
pra retomar o fôlego
e começar novamente.
Penso poesia enquanto
toco seu rosto com meus cabelos
penso sempre poesia
você é sempre poesia
em doses ritmadas
de intensidade
você faz música com o corpo inteiro
e eu penso sempre poesia
você é todo poesia
da cabeça aos pés.
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