segunda-feira, 7 de abril de 2025

Nessa manhã perfeita
De frio ensolarado
Cabe a minha infância inteira
E todo o inesperado 

O mundo se move comigo
Mas o tempo descansa parado
Enquanto pedalo minha bicicleta 
E o vento arrepia gelado

O sol cresce à pino
Arranha o topo do céu
A tarde uma camada fina
Escorrendo feito mel

O ar parece mais leve
Depois que a chuva o varreu
O azul penetra os pulmões 
E faz outono em corpo meu

A noite desce igual manto
Cobre a cidade de escuro
Sua voz é tecida com as luzes
Que piscam como sussurros

Apesar de faróis e buzinas
O silêncio ainda escuto
Esse diapasão interno
Som delicado e bruto

quinta-feira, 27 de março de 2025

Gosto de lamber ideias
De molhar o pensamento que
Se desmancha e se alastra
Curiosidade adentro

Como um rio navegante
Onde nadam pedrinhas e
- Um peixe pulou,
Você viu?

Esse território sinuoso
Que percorro agora
À espera de uma palavra
Que faça borbulhos

Qual?! - pergunta o horizonte

Aquela com maior textura
Para passar a língua 


terça-feira, 4 de março de 2025

Carnaval

O corpo colado
De purpurina
Abraça o brilho
Do sol de março 

As águas não rolaram
Mas o rio segue fluindo
A aridez o suor o samba
O  Rio continua lindo

É baco bloco barco
Sem rumo nem porto
Na proa ou no Leme
De Ipanema ao Egito

Eu me esqueço de mim
Só por um momento
Viro cinzas coloridas
Viajando no vento

Nessa dança coletiva
Faço desfaço refaço
Torno-me fogo-pássaro 
Na quarta eu renasço

sábado, 4 de janeiro de 2025

Disponibilizar-me 
para o vôo 

enquanto rugem

as pedras calcárias

moídas numa estação

esquecida na estrada


Levantar-me neblina

Vapor frio flutuante

Singelo movimento silencioso 

Segredo escondido

entre arbustos acesos


Planar

acima das cidades antigas

do lixo capitalista e

das estradas que nos levam

ao esquecimento


Lembrar de você e

incendiar-me


Tua memória aquecendo 

a escuridão enquanto

pouso em flamas

na concretude da 

tua imagem