segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O tempo passa na aula de fonologia  
e enquanto descrevemos os sons da margarina, 
os sons que movem meu desejo vão derretendo em mim, 
escorrendo  
                   pelas 
                   beiradas. 

Perdi a trilha do meu desejo, 
perdi os trilhos nesse querer 
que não convence por inteiro. 

Vim dando voltas em mim mesma tentando escapar do próprio corpo. 
Me sinto desconectada dele como se vagasse pela vida amortecida. 
Esquecendo da alegria e da comichão que aguça os sentidos. 
Pensar demais abafa os sentidos. 

Quando eu não sabia 
as armadilhas 
que me capturavam 
na psique 
eu simplesmente 
não pensava sobre 
o que se esconde 
no escuro. 

Por não conseguir ver 
além do muro 
que construí 
ao meu redor. 

Agora que eu vejo 
o muro e 
desvendo as armadilhas, 
os mecanismos 
se tornam mais sutis; 
acabo deturpando 
os  
       obstáculos 
a frente. 

Quando creio estar 
na superfície 
algo me puxa 
para b
         a
         i
         x
         o

e me lembra que não estou num lugar só, 
eu me duplico, 
estou aqui                                                e                                                          lá. 

Assim deve ser. 

Há algo sempre por debaixo.
Querendo escapar. 
Quanto mais se conhece o escuro mais a luz parece cegar. 

Não quero andar cega, iludida. 
Quero viver coerente com minha sombra. 
Íntegra. 
Poder afirmar a vontade que me atrai naturalmente a certos lugares. 
Saber que lugares são esses. 
Andar por onde possa vicejar. 

Não me contentar com um mato descuidado. 
Cultivar um jardim para mim mesma, me fazer palácio, 
não deixar que entrem aqueles que podam meus lírios, 
não deixar me convencer de que não mereço o mais belo jardim. 

Eu me mereço. 
Eu me pertenço. 
Eu me sou. 

Não vou me colocar fora de mim pelo outro. 
Não posso fazer isso se não estiver no meu corpo, 
caminhando desejante por entre os ossos
que dão solo fértil às flores.
Faminto é o fosso que habita as profundezas do poço que sou. 

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