O tempo passa na aula de fonologia
e enquanto descrevemos os sons da margarina,
os sons que movem meu desejo vão derretendo em mim,
escorrendo
pelas
beiradas.
Perdi a trilha do meu desejo,
perdi os trilhos nesse querer
que não convence por inteiro.
Vim dando voltas em mim mesma tentando escapar do próprio corpo.
Me sinto desconectada dele como se vagasse pela vida amortecida.
Esquecendo da alegria e da comichão que aguça os sentidos.
Pensar demais abafa os sentidos.
Quando eu não sabia
as armadilhas
que me capturavam
na psique
eu simplesmente
não pensava sobre
o que se esconde
no escuro.
Por não conseguir ver
além do muro
que construí
ao meu redor.
Agora que eu vejo
o muro e
desvendo as armadilhas,
os mecanismos
se tornam mais sutis;
acabo deturpando
os
obstáculos
a frente.
Quando creio estar
na superfície
algo me puxa
para b
a
i
x
o
e me lembra que não estou num lugar só,
eu me duplico,
estou aqui e lá.
Assim deve ser.
Há algo sempre por debaixo.
Querendo escapar.
Quanto mais se conhece o escuro mais a luz parece cegar.
Não quero andar cega, iludida.
Quero viver coerente com minha sombra.
Íntegra.
Poder afirmar a vontade que me atrai naturalmente a certos lugares.
Saber que lugares são esses.
Andar por onde possa vicejar.
Não me contentar com um mato descuidado.
Cultivar um jardim para mim mesma, me fazer palácio,
não deixar que entrem aqueles que podam meus lírios,
não deixar me convencer de que não mereço o mais belo jardim.
Eu me mereço.
Eu me pertenço.
Eu me sou.
Não vou me colocar fora de mim pelo outro.
Não posso fazer isso se não estiver no meu corpo,
caminhando desejante por entre os ossos
que dão solo fértil às flores.
Faminto é o fosso que habita as profundezas do poço que sou.
que dão solo fértil às flores.
Faminto é o fosso que habita as profundezas do poço que sou.
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