sábado, 30 de junho de 2018

Contorcionismo para a expansão

Tenho crescido no meu corpo ainda juvenil
como uma esponja que vai absorvendo a água toda, 
como uma suculenta que retém a água para suportar a secura externa, 
como um jarro que se enche sem jamais transbordar, 
e que quando se olha dentro parece vazio e escuro 
como se guardasse a noite vazia e escura em si.  

Quando me observo agora com o corpo inchado  
de uma gravidez espiritual 
e de uma fome cada vez mais larga;  

quando me vejo nutrindo essa busca 
de mim mundo adentro de mim mesma, 
e me vejo tocando o dedo de Deus 
numa religação revigorante com a natureza
e o mistério que circunda a existência de todas as coisas 
em todos os tempos, eras geológicas, astrológicas, e amorosas, 

me sinto de alguma forma nova e velha ao mesmo tempo. 
Como se descobrisse algo novo que, em verdade, 
é toda a memória magmática, que está em mim 
numa pequena partícula vibrátil  
em cada célula do meu corpo, 
que às vezes arrepia de dentro pra fora até a pele, 
me indicando o caminho mais coerente, 
que é aquele que me leva sempre de retorno a mim. 

Porque eu não tenho em verdade 21 anos, 
eu tenho bilhões e bilhões de anos...  
Mas o que é em verdade o tempo? 
Está contido nesse segundo 
em que sou eu agora e ouso dizer que tenho 21 anos  
e ainda não aprendi a predizer e a ler os oráculos. 

A arte de olhar o passado é a de arriscar jogar o jogo do futuro. 

Pois é preciso conhecer estes mistérios, 
ter o pé cascudo e firme, 
vestir-se do barro quente, 
e adornar-se com pedras e tecidos leves -
que estão à disposição de nós como o sol,  
que se levanta laranja nos sonhos de alguns. 

Encontrar a ancestralidade 
não é necessariamente buscar na família 
a árvore genealógica, 
é também descobrir a sua face para além do espelho, 
reconhecer as forças que te acompanham, 
se familiarizar com elas. 

É ser raiz que nutre o corpo 
que se alonga rumo ao céu 
numa dança sutil da alma: 
contorcionismo 
para a expansão. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário