Tenho crescido no meu corpo ainda juvenil
como uma esponja que vai absorvendo a água toda,
como uma suculenta que retém a água para suportar a secura externa,
como um jarro que se enche sem jamais transbordar,
e que quando se olha dentro parece vazio e escuro
como se guardasse a noite vazia e escura em si.
Quando me observo agora com o corpo inchado
de uma gravidez espiritual
e de uma fome cada vez mais larga;
quando me vejo nutrindo essa busca
de mim mundo adentro de mim mesma,
e me vejo tocando o dedo de Deus
numa religação revigorante com a natureza
e o mistério que circunda a existência de todas as coisas
em todos os tempos, eras geológicas, astrológicas, e amorosas,
me sinto de alguma forma nova e velha ao mesmo tempo.
Como se descobrisse algo novo que, em verdade,
é toda a memória magmática, que está em mim
numa pequena partícula vibrátil
em cada célula do meu corpo,
que às vezes arrepia de dentro pra fora até a pele,
me indicando o caminho mais coerente,
que é aquele que me leva sempre de retorno a mim.
Porque eu não tenho em verdade 21 anos,
eu tenho bilhões e bilhões de anos...
Mas o que é em verdade o tempo?
Está contido nesse segundo
em que sou eu agora e ouso dizer que tenho 21 anos
e ainda não aprendi a predizer e a ler os oráculos.
A arte de olhar o passado é a de arriscar jogar o jogo do futuro.
Pois é preciso conhecer estes mistérios,
ter o pé cascudo e firme,
vestir-se do barro quente,
e adornar-se com pedras e tecidos leves -
que estão à disposição de nós como o sol,
que se levanta laranja nos sonhos de alguns.
Encontrar a ancestralidade
não é necessariamente buscar na família
a árvore genealógica,
é também descobrir a sua face para além do espelho,
reconhecer as forças que te acompanham,
se familiarizar com elas.
É ser raiz que nutre o corpo
que se alonga rumo ao céu
numa dança sutil da alma:
contorcionismo
para a expansão.
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