Irremediável Clarice,
No farfalhar das folhas entre o azul
Dentro do ventre dos bichinhos
No silêncio das pedras.
Te dedico estas palavras obscenas
da vida nua,
Remexidas no meu corpo
Assim como as de Manoel:
O barro grosso e maleável
que visto pela manhã
desfolhando a pele em camadas secas;
O deserto que habita em mim.
Fervuras e Quenturas
no meu caldeirão
dão bom caldo;
misturo o instante já
à capacidade humana de borboletas
E faço uma sopa quente
que desce a garganta
acariciando a linguagem.
À noite,
sob as estrelas tremeluzentes,
conto uma história ao silêncio,
que, espantado,
gruda nos cílios como poeira-poesia.
As paredes aguçam o ouvido para o som das águas.
E,
antes de adormecer,
levada pelo riacho,
faço essa oração às coisas
inanimadas.
Pedaços de deus na
irrealidade imediata.
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