terça-feira, 1 de novembro de 2022

Sanguíneo 
o órgão pulsa
pirilampeando
na escuridão
do corpo.

Entre as sílabas roucas 
que me escapam
pelos poros:
endocarpos,
escápulas,
coração catártico.

No ritmo das perdas,
consolos, afagos,
dos lutos lentos
escorregando
pelas veias...

No bater incansável
do tambor vermelho,
a vida jorra 
desassombrando
a cegueira dos dias.

A vida navega
pacientemente 
pelas células
feito uma nau errante.

Neste mesmo instante,
a vida vaga 
desassossegada
pelos ossos, músculos,
pele inacabada.

Da ponta dos dedos
saltam
dançam
viajam
linhas coloridas
na imensidão 
do espaço.

Imersas,
as linhas atravessam
a atmosfera,
tocando
delicadamente
a matéria-mundo.

Matéria múltipla,
manifestada na multidão
dos corpos, 
na cadência
dos bumbos cósmicos.

Matéria viva,
vasta e profunda
que me toca:
o ar me penetra,
assola esse cisma
no meio do peito,

Bombeando
barcos, bichos,
linhas, rabiscos,
sustos, signos...

Vertiginosos arrepios
no arco de um respiro.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Há algo de caos no gozo:
Memórias;
Sismos;
Desvarios.

Há algo de cósmico no riso:
Um lance
de dados
no abismo.

Há algo de cômico no risco:
Seriam cócegas
nas costelas
do infinito?

Há algo de erótico em tudo isso...
Quando você vem
brincar comigo?

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Mais uma vez
sou ninada 
no colo do escuro.

Mais uma vez
sou gestada 
no abraço do inseguro.

Mais uma vez,
acolhida
por suas mãos enormes.

Mais uma vez,
moldada
por sua matéria informe.

Uma névoa que desce
das montanhas
ao anoitecer.

Tive medo de perder
meus contornos,
de esquecer o que sabia,
de sumir o que eu tocava
com a certeza dos meus dedos...

Mas agora que me entrego
ao útero do universo,
derramo minha angústia 
e meu silêncio fértil 
no pulso lento dos recomeços.

domingo, 15 de maio de 2022

Instruções para erotizar com a natureza

Despir-se para a luz do sol
Lábios sobre os lábios da terra
Suor & seiva
Abrir os poros para as carícias das folhas
Deitar e rolar com a relva
Gozar com a polifonia do crepúsculo 
Em comunhão com cigarras, grilos e aves
Depois murchar no solo
Deixar-se absorver pelo seu seio fértil 
Descansar no calor túmido das rochas 
Rebrotar na aurora, mansa e furiosa
Úmida como as lágrimas-orvalhos
Deixar o sol banhar mais uma vez
Seu corpo líquido, seu corpo líquen
Trasmutado em metamorfose verde