natureza viva:
abalos sísmicos
o sangue e a seiva
dor de ventre
o som esquecido
das raízes das árvores
escapando-se sempre
o pulsar de um coração
o vasto vento do sul
o plainar de um ser azul
os gestos que emergem
das beiradas do corpo
os dedos das mãos
de súbito no ar
feito pergunta
a resposta:
não mais que
dedos das mãos
bastam-se.
natureza morta:
pousa na mesa
de um vôo longínquo
plácida e tácita
tangerina
salivando
aguarda
seu destino sombrio
da ponta dos pincéis
à óleo não assobia
é coisa parada
assim
inamovível
sem segredos
sem som:
memória laranja
ao meio-dia.