quarta-feira, 22 de novembro de 2017

TOSSE

como que um apito quebrado
engasgado na  traquéia

um rouco rouxinol apitando tragédia
traduz alguma saudade interrompida

teimosia indecifrável
essa de repetir-me em gesto tuberculoso

um escarro sempre por vir
como se escancarar fosse

o futuro das mandíbulas
sônambulas ossadas mudas

como se um câncer crescesse a olhos nus
diminuindo-se sempre para manter-se o mesmo

turvo turvo, menos que furo
o pulmão escuro de epicuro

está como que baleado
servindo de peneira às facas

frígidas que engulo
a intervalos de assobios

tranquei nalguma escápula
um sentimento afiado de perder

agora o ar que entra me escapa
e a perda consuma-se nesse

quase impulso de desapego
lúcido e trôpego

mas que ainda volta – refluxo
e revolta as costelas mal dobradas

impedindo o fluxo
melodioso dos oráculos 

tentaculosos obstáculos
minuciosamente articulados

por uma saúde aurática
deusa curandeira dos espaços vazios

que desobedecida implica
 o falecimento das funções

como se colocasse pedra na garganta
como se alfinetasse lenta os pulmões 

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