quinta-feira, 20 de abril de 2017

Tristeza

Trezentas farpas encravadas na face solar de meus pés.
Lágrimas banham meu corpo doce e sanguíneo.
Pequenos buracos nas minhas artérias.
Pequenos coágulos nas minhas veias.
Piso ainda em solo vítreo e quebradiço e passeando pela minha tristeza, aguento os cacos, tão finos, que furam meus pés.

Violinos me perfuram, me penetram inteira.
Sou já feita de madeira maciça e musical.

Tenho um lago negro morando em mim.

Sei que sou sozinha na minha solidão.
Sei que minha dor me pertence e que mesmo assim meus olhos e minhas garras de gavião lutam no escuro, inúteis.
Sei ser inteira e despedaçada.
Sei ser doce e sei ser salgada.

Sou feita da única matéria que me seria possível e ainda estou aprendendo a nadar.

Tece violenta a sua fúria sobre a minha pele.
Toca delicada a minha vulva e se despede de mim.
Tristeza: deixo-te ficar a noite, mas de manhã não quero ver-te por perto.Vá com o nascer do sol e leva contigo teus cristais.

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