quarta-feira, 22 de novembro de 2017

TOSSE

como que um apito quebrado
engasgado na  traquéia

um rouco rouxinol apitando tragédia
traduz alguma saudade interrompida

teimosia indecifrável
essa de repetir-me em gesto tuberculoso

um escarro sempre por vir
como se escancarar fosse

o futuro das mandíbulas
sônambulas ossadas mudas

como se um câncer crescesse a olhos nus
diminuindo-se sempre para manter-se o mesmo

turvo turvo, menos que furo
o pulmão escuro de epicuro

está como que baleado
servindo de peneira às facas

frígidas que engulo
a intervalos de assobios

tranquei nalguma escápula
um sentimento afiado de perder

agora o ar que entra me escapa
e a perda consuma-se nesse

quase impulso de desapego
lúcido e trôpego

mas que ainda volta – refluxo
e revolta as costelas mal dobradas

impedindo o fluxo
melodioso dos oráculos 

tentaculosos obstáculos
minuciosamente articulados

por uma saúde aurática
deusa curandeira dos espaços vazios

que desobedecida implica
 o falecimento das funções

como se colocasse pedra na garganta
como se alfinetasse lenta os pulmões 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Dedos & Línguas  
sobre as flores do edredom 
Feito lagartos fugidios por entre a mata  
                                                                    Atlântica 
O sul do corpo 
                                                 esse mar de delícias 
Essa mancha em teu tornozelo: 
                                                     a América Latina 
Quente o sol sobre a nudez carnívora dos corpos 
Devorando-te de sol a sul            o azul             
Com a leveza esvoaçante da cortina 
Que nos arranca os tornozelos epiléticos 
E os devolve à língua mãe nativa    
Aquela que só o bico do  
          seio conhece: 


      Silêncio  


    atraves 

 sado de  



   Sa  
     li 
      va 





ARACNÍDEA

tesos fios 
fiordes maciços 
lírios 
  
tenros filhos 
de mãe fatal 
  
teia fatídica 
lírica 
  
trama a tarde 

uma transa 
afoita 
acidental 
  
torpe trêmulo  
tarântulo 
teme o tempo 
que inda tem 

sou parceira  
tramadeira 
trepadeira  
assassina 
  
minha picada  
apaixonada: 
flor faminta 
fina mordida 
  
tesão  
tensão 
  
sexo homicida 

NESTE PROFUNDO LIMBO DE SONHOS II

inspirado em Domingos Guimaraens

me aproximo do derrame  
colossal 
colapso  
abissal  
de sentidos 
chego perto do abismo  
 
abismo- 
me. 
  
arqueo 
lógicas 
vontades matinais 
geográficas feridas acidentais 
na geológica arquitetura  
do eu profundo 
fundo o horizonte- 
mundo 
que se estatela 
no revoltoso limbo 
  
e acordo imersa 
em fundas fendas 
  
escarpadas fêmuras  
me atravessam e 
                                suturam