terça-feira, 29 de abril de 2025

hoje 
a cidade 
um filme dos anos 20
mudo e em tons de cinza
chove um desespero quieto

as cores se apagaram da cena
tudo é concreto e mar
e um luto lânguido 
que escorre
pela baía 

uma baleia
chora sob as águas 
acidamente paradas - plácidas 
- como o véu de uma viúva a ver navios

duas estátuas sentadas num banco lêem
as sombras enormes das nuvens
escritas moventes 
do céu 

a sós 
eu e eu
num ônibus 
a atravessar a ponte
temos vontade de desabar
cinza sobre cinza sobre cinza


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