hoje
a cidade
um filme dos anos 20
mudo e em tons de cinza
chove um desespero quieto
as cores se apagaram da cena
tudo é concreto e mar
e um luto lânguido
que escorre
pela baía
uma baleia
chora sob as águas
acidamente paradas - plácidas
- como o véu de uma viúva a ver navios
duas estátuas sentadas num banco lêem
as sombras enormes das nuvens
escritas moventes
do céu
a sós
eu e eu
num ônibus
a atravessar a ponte
temos vontade de desabar
cinza sobre cinza sobre cinza