segunda-feira, 19 de maio de 2025

 Oi oi, leitoras e leitores querides

Venho compartilhar com vocês que agora tenho uma página na plataforma substack (uma plataforma que conecta escritores e leitores), onde posto alguns textos em prosa (crônicas, desabafos, anedotas). Convido vocês a conferirem e se inscreverem! Os novos post chegam direto na sua caixa de e-mail e são leituras de alguns minutos para rechear os dias com palavras calientitas. 

Dá uma olhada: https://danielacassinelli.substack.com/

Por aqui, continuarei partilhando minhas poesias íntimas.

Nos vemos (aqui e lá)!

Beijos,

Dani

terça-feira, 29 de abril de 2025

hoje 
a cidade 
um filme dos anos 20
mudo e em tons de cinza
chove um desespero quieto

as cores se apagaram da cena
tudo é concreto e mar
e um luto lânguido 
que escorre
pela baía 

uma baleia
chora sob as águas 
acidamente paradas - plácidas 
- como o véu de uma viúva a ver navios

duas estátuas sentadas num banco lêem
as sombras enormes das nuvens
escritas moventes 
do céu 

a sós 
eu e eu
num ônibus 
a atravessar a ponte
temos vontade de desabar
cinza sobre cinza sobre cinza


segunda-feira, 7 de abril de 2025

Nessa manhã perfeita
De frio ensolarado
Cabe a minha infância inteira
E todo o inesperado 

O mundo se move comigo
Mas o tempo descansa parado
Enquanto pedalo minha bicicleta 
E o vento arrepia gelado

O sol cresce à pino
Arranha o topo do céu
A tarde uma camada fina
Escorrendo feito mel

O ar parece mais leve
Depois que a chuva o varreu
O azul penetra os pulmões 
E faz outono em corpo meu

A noite desce igual manto
Cobre a cidade de escuro
Sua voz é tecida com as luzes
Que piscam como sussurros

Apesar de faróis e buzinas
O silêncio ainda escuto
Esse diapasão interno
Som delicado e bruto

quinta-feira, 27 de março de 2025

Gosto de lamber ideias
De molhar o pensamento que
Se desmancha e se alastra
Curiosidade adentro

Como um rio navegante
Onde nadam pedrinhas e
- Um peixe pulou,
Você viu?

Esse território sinuoso
Que percorro agora
À espera de uma palavra
Que faça borbulhos

Qual?! - pergunta o horizonte

Aquela com maior textura
Para passar a língua 


terça-feira, 4 de março de 2025

Carnaval

O corpo colado
De purpurina
Abraça o brilho
Do sol de março 

As águas não rolaram
Mas o rio segue fluindo
A aridez o suor o samba
O  Rio continua lindo

É baco bloco barco
Sem rumo nem porto
Na proa ou no Leme
De Ipanema ao Egito

Eu me esqueço de mim
Só por um momento
Viro cinzas coloridas
Viajando no vento

Nessa dança coletiva
Faço desfaço refaço
Torno-me fogo-pássaro 
Na quarta eu renasço

sábado, 4 de janeiro de 2025

Disponibilizar-me 
para o vôo 

enquanto rugem

as pedras calcárias

moídas numa estação

esquecida na estrada


Levantar-me neblina

Vapor frio flutuante

Singelo movimento silencioso 

Segredo escondido

entre arbustos acesos


Planar

acima das cidades antigas

do lixo capitalista e

das estradas que nos levam

ao esquecimento


Lembrar de você e

incendiar-me


Tua memória aquecendo 

a escuridão enquanto

pouso em flamas

na concretude da 

tua imagem

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O tédio 

Essa força inelutável
dilata e espessa
como um dia 
e s p a r r a m a d o
de verão 

Uma ânsia inemovível
paralisada e seca
caindo do alto de um galho
num velho outono adiantado

Essa contradição espasmódica:
terremoto quieto
cigarra aberrante
o vento surdo e cego
o som dilacerante 
explosão amena
a calma alucinante

Um sisco viscoso 
agarrado ao pensamento

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Meu corpo, torto e esperançoso,
Como mater-se sensível
Diante do caos incompreensível?

Diante do barulho surdo,
Meu corpo, vísceras do mundo,
Como manter-se poesia, tripas e tudo?

Meus olhos cansam
Da violência, repetida,
Da visão seca da morte,
Das vidas precarizadas,
Das mentes adoecidas.

Meus músculos não descansam,
Abandonam-se aos ossos.
A garganta arranha,
O grito mudo grudado no muco.
Nem um cuspe, nem um agudo.

O silêncio não é mais bem-vindo.
Só o barulho avassalador
Do nada
Engolindo tudo.

Casas, ruas, trens,
Sons, metais, buzinas,
Cidades, campos, neblinas,
A morte, a vida, em carne viva.

Misturadas ao suor da terra,
Sangram. Escorrem sem saída.

E ainda, apesar dos pesares,
Um coração pulsa numa bananeira.

O som possível de um piano
Vagueia pelo calor insano,
Preenche o ar cinza e grosso,
Depois das notas do remorso,
Onde um delicado tom verdejante
Insiste em brotar de qualquer maneira.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Esta é uma nota de agradecimento. 
A todos que vêm a este lugar, este blog simples, um recanto sem luxo nem anúncios no vasto espaço cibernético, buscando nas palavras um toque ao coração. 
Escrevo blogs desde a adolescência, e ao mesmo tempo que me acompanha uma solidão e um silêncio, como se falasse ao vazio, também sinto a esperança de que alguém, em algum lugar, me escuta. Um poeta só existe porque existem leitores. 
Você, que me lê agora, o que te traz aqui? O que você espera encontrar nesse cantinho que compartilhamos como um quarto escuro? Adoraria que você me contasse aqui nos comentários. 
De todo modo, essa é uma nota de agradecimento. 
Seja o que for que você busca, espero que encontre, mas se não encontrar, espero que a travessia seja bela.

Com carinho,
Dani

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Gigante é a criança que me habita
Bochechas rosadas quando grita
Ou a vergonha visita minha barriga

Gigante é a criança que me habita
Crescendo a cada dia quando brinca
Livre enquanto passeia pela escrita

Gigante é a criança que me habita
Mesmo quando se sente pequetita
E quer se esconder numa frase antiga

Gigante é a criança que me habita
Faz rebuliço, arte, gira, mandinga
Torce a fé por onde pisa

Firme, sem medo, nem avisa
Confiante, entre idas e partidas
Gigante é a criança que me habita

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Pés no chão 
de uma realidade 
dura
Piso firme
O asfalto quente
queima
caleja

Olhos em riste

disparam

cinzas

Os trilhos

faiscam

flechas


Quadris fortes

Titânio 

Bambos

diante da dor

que dança 

o não dito


Bocas largas

cheias de dentes

Devoram 

o que?

A raiva mordendo

as próprias bochechas 


Bocas falam

Articulam

o que?

Palavras turvas

disfarçadas

de importância 


Afinal, importa

o que?


Sorrisos 

subsistem 


Sorrisos 

sempre 

possíveis


Como mísseis