terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Qual livro clama, 
de dentro da boca 
escura e quente 
da fera da escrita?

Qual livro trama 
silêncios & repetições
buscando uma saída
na palavra saúva
como uma epifania 
no corpo frágil
de uma formiga?

Qual livro é esse
que a minha língua
anseia por lamber
e as minhas mãos
salivam por tecer?

Pelo amor das palavras
sinceras & sagradas
rogo pelo livro oculto
perdido nas esquinas
da memória.

Rogo pelo meu querido livro,
para que encontre seu rumo
nas linhas tortas 
do meu pensamento errante.

Peço para que de mim 
não se esqueça
e no labor da letra
em mim se escreva.

Escrever:
Enguias eletrificam as águas
silentes e perigosas
do inconsciente.

A mão dispara às teclas
agitada pelo furor das sinapses,
abrasada pela faísca das palavras

suspensas,

nadando na atmosfera do pensamento,
aguardando, como peixes perdidos, 

surpresas suculentas,

sem suspeitar o gosto do ferro frio,
do remorso líquido 
escorrendo
do anzol.