E pensar que existe
algum lugar
no planeta
agora...
Onde pandas desfrutam o amanhecer
Onde águas são eriçadas pelas asas de um beija flor
Onde um sapo repousa no silêncio úmido de uma pedra
E os bambus balançam ao som do vento,
inventando vozes farfalhantes
que brincam de caçar o sol
E pensar...
Que os bocejos se levantam
espriguiçantes
da minha garganta
anunciando a manhã
de mais uma terça-feira
Os carros,
à distância,
contra a luz
que reflete
a baía,
parecem
formigas
velozes
no formigueiro-
cidade.
As vias
parecem
veias,
por onde
o sangue
maquinal
escorre.
Enquanto avanço,
aos trancos,
nos flancos
de um ônibus,
a baía se estende,
impassível,
tocando
o horizonte.
Intemível,
ela repousa
em um silêncio
que inunda
o barulho
dos carros.
Basta abrir
os ouvidos:
lá estão
os sons
longínquos
das baleias.
Mensagens
subaquáticas
que só
o sonho
decifra.
O sonho:
essa criatura
marinha que
nos invade
o sono
e deixa
seus rastros
ao longo do dia.