O peso das dores
nos ombros dos dias
cravado nos músculos
das horas
aflitas
Das cores, o cinza
crescendo no céu
da boca
até que a saliva
vire lágrima derretida
Os olhos: deserto
antevendo tempestade
acumulando oceanos
no dessalgar da idade
Irrompe a chuva
A água despenca
violenta
Lava as mágoas
cicatrizadas na pele
do tempo
O vento varre
as memórias turvas
O ventre esfria e dobra -
mesmo movimento
quando ri ou chora
O duro das dores
amolece no dissolver
das mágoas
E os dias amargos
se esquecem no cair
das horas