terça-feira, 1 de novembro de 2022

Sanguíneo 
o órgão pulsa
pirilampeando
na escuridão
do corpo.

Entre as sílabas roucas 
que me escapam
pelos poros:
endocarpos,
escápulas,
coração catártico.

No ritmo das perdas,
consolos, afagos,
dos lutos lentos
escorregando
pelas veias...

No bater incansável
do tambor vermelho,
a vida jorra 
desassombrando
a cegueira dos dias.

A vida navega
pacientemente 
pelas células
feito uma nau errante.

Neste mesmo instante,
a vida vaga 
desassossegada
pelos ossos, músculos,
pele inacabada.

Da ponta dos dedos
saltam
dançam
viajam
linhas coloridas
na imensidão 
do espaço.

Imersas,
as linhas atravessam
a atmosfera,
tocando
delicadamente
a matéria-mundo.

Matéria múltipla,
manifestada na multidão
dos corpos, 
na cadência
dos bumbos cósmicos.

Matéria viva,
vasta e profunda
que me toca:
o ar me penetra,
assola esse cisma
no meio do peito,

Bombeando
barcos, bichos,
linhas, rabiscos,
sustos, signos...

Vertiginosos arrepios
no arco de um respiro.