Ode mínima à Hilda Hilst
Hilda,
Hilda,
Se me escutas do outro lado,
Dize-me de vento e alma:
Há poesia
ainda etérea
imaterial e viva
depois da morte tísica
do corpo?
Há desejo, há insanidades
poéticas, divinas?
Há bacanais, flautas, corças?
Ou a face de Deus é sóbria
lúcida lânguida lúgubre
como a poeira cósmica
dançando no parapeito da aurora?
Dize-me:
A Morte te tomou voluptuosa
Ferrugem esboçada
Funda, fina, rasa, tina?
Te carregou nos flancos,
rumo ao nada,
dulcíssima cavalinha?
E a Vida uns barcos bordados,
mosaico de teias,
fluxo claro de cores líquidas,
foi-te infinita a cada instante,
peixe rubro que és?
— Tomei e fui tomada
No abismo dessa antessala,
te procuro, te toco tácita
sem dedos, sem máscaras.
Te entrego em reverência,
Hilda,
Hilda,
estas palavras parcas
(ainda que trêmulas,
ainda que plácidas).
Hilda,
Hilda,
Se me escutas do outro lado,
Dize-me de vento e alma:
Há poesia
ainda etérea
imaterial e viva
depois da morte tísica
do corpo?
Há desejo, há insanidades
poéticas, divinas?
Há bacanais, flautas, corças?
Ou a face de Deus é sóbria
lúcida lânguida lúgubre
como a poeira cósmica
dançando no parapeito da aurora?
Dize-me:
A Morte te tomou voluptuosa
Ferrugem esboçada
Funda, fina, rasa, tina?
Te carregou nos flancos,
rumo ao nada,
dulcíssima cavalinha?
E a Vida uns barcos bordados,
mosaico de teias,
fluxo claro de cores líquidas,
foi-te infinita a cada instante,
peixe rubro que és?
— Tomei e fui tomada
No abismo dessa antessala,
te procuro, te toco tácita
sem dedos, sem máscaras.
Te entrego em reverência,
Hilda,
Hilda,
estas palavras parcas
(ainda que trêmulas,
ainda que plácidas).