Hoje de manhã, o céu
tinha um objeto assim parado,
pousado sobre o ar estático.
Não soube dizer o que era:
se um balão, se um et de ressaca.
Pela primeira vez em mais de ano
desço as escadas para o subterrâneo.
A música que toca é conhecida antiga,
mas o barulho do metrô ao chegar na estação
não me lembrava ser tão alto...
Pareceu-me um bicho estranho,
tão automático nos seus gestos.
Será que ando assim como ele?
Me conduzindo de um lado a outro
sem me perguntar porque?
Na Estácio, o bicho enche-se.
Engole uma porção de gente
com sua bocarra aberta de metal.
As pessoas correm a buscar assento.
Sentar-se é o último bombom da caixa.
Quem é que vai levá-lo?
Quem sobrevive a esta cidade voraz,
que multiplica a fome pelas beiradas,
enquanto o centro se empanturra
como um buraco sem fundo?
Um estranho objeto paira no céu,
eu desço às profundezas da terra
só pra descobrir que isso que chamamos normalidade
é na verdade um ser indiscernível -
tão estranho e sem nexo que,
para nossa conveniência,
não nos importamos em esquecer disso.