é como se eu fosse catapultada de volta
aos 13
aquele sofrimento brotando alienígena do meu íntimo
a primeira menstruação manchando a infância
eu sou um monstro, menos, eu sou um feto escroto
é o que escrevo no meu diário
aos 14
quando assito ao show do Roger Waters
e minha percepção de realidade é destruída a marretadas
como o muro construído tijolo por tijolo no Engenhão
para ser então reconstruída sobre a dúvida
os pensamentos derretendo ao som de Dark Side of the Moon
aos 17
numa sala vazia, encostada sobre a parede branca
o corpo escorregando
aos 18
noutra sala, deitada no chão
hipotizada pelas luzes neon
que brilham formando padrões no teto
o seu rosto me enfeitiçando do outro lado do cômodo
o seu corpo grudado no meu numa cama de solteiro às 7 da manhã
e Kid A tocando na sua vitrola, mas é só
aos 21
que assisto o Thom Yorke ao vivo
e tenho a impressão de que ele é um peixe
dançando sem ossos e eu um aquário vazio de ar
você está lá naquele cardume em algum lugar
mas a essa altura eu já desisti de te procurar.