segunda-feira, 22 de junho de 2020

a noite veloz 
como um caramujo
me desvenda:
a casa no corpo
no tempo esta senda

as sombras travessas
tramam futuros
incertos
incêndios
acendem o breu

no sonho, o abrigo
no umbigo, este corte
no fundo, a morte
já é renascer

debaixo do céu-yang 
sigo o sentido 
da terra-yin

in-vento
in-verno
in-verso

palavras 
convexas
em busca 
de nexo

silêncio grávido
milhões de tropeços
e ainda aqui
em corda-bamba
avanço plácida
inteira e torta

mas se a linguagem do avesso
devassa teço amanhãs
madrugada mansa 
atravesso

sem segredos sangro
ventre-tombo-semente

escuto uivos à lua
no escuro úmido
da caverna, onde 
nua e telúrica
me deito
me escorro 
me esca(r)po

um caramujo veloz
como a noite
me desvenda:
no espaço-trêmulo
entre as letras
brilha mais o poema