terça-feira, 14 de abril de 2020

o tempo 
se alastrou
mole
plácido
no chão do quarto

e no ar poeiril 
o contágio 
dançou
alado

as ilusões mecânicas
de um mundo 
à beira
fluem roucas
até o ralo

e não há máquina
que capture a morte
que nos encara
da janela
da torneira

lúcida
esquiva
traiçoeira

doce
súbita
lado avesso
da vida

escorre pelas mãos
unguento vivo
de sangue
e poesia

se derrama
dengosa
mas não se demora

passa
como tudo
passa

e fica
ponta afiada 
de faca

a um suspiro
do arrepio
do assombro

não nos esqueçamos jamais

pois que é 
do espanto
que se faz um corpo