o tempo
se alastrou
mole
plácido
no chão do quarto
e no ar poeiril
o contágio
dançou
alado
as ilusões mecânicas
de um mundo
à beira
fluem roucas
até o ralo
e não há máquina
que capture a morte
que nos encara
da janela
da torneira
lúcida
esquiva
traiçoeira
doce
súbita
lado avesso
da vida
escorre pelas mãos
unguento vivo
de sangue
e poesia
se derrama
dengosa
mas não se demora
passa
como tudo
passa
e fica
ponta afiada
de faca
a um suspiro
do arrepio
do assombro
não nos esqueçamos jamais
pois que é
do espanto
que se faz um corpo