quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Dentro da noite selvagem

Deitada no corpo rochoso da Terra,
Encostada na encosta de pedra,
O olhar verdejante de estrelas...
O resto de fogo
que aquece a nudez da alma;
O rastro de fogo
que corre veloz no espaço...
O que é? Este universo?
O que sou?
Caibo em algum verso?
Ou sou incógnita?
Magnitude?
Circunferência?
Queimo mapas.
Pele de lagarto,
Vivo de deserto.
Escassa é a fonte do Intelecto,
Melhor seria render-se ao Vazio
Que me cerca.
Me encharca.
Me abraça.
Me escapa...
Graciosa escarpa
Onde estou a deitar.
Coluna vertebral.
Útero da Grande Mãe:
Recebe o calor do meu corpo
Escarnecido;
Recebe este murmúrio.
Este sopro de vento.
Fecho os olhos
Em agradecimento:
Venham sonhos,
Me banhar.
Deixo que fluam
Animais e plantas
E o imaginário
de homens e mulheres...
Senda da noite,
Fronteira de luz
Que me protege o sono
Com manto sereno.
Guarda teus seres
Na floresta da origem,
Onde estão os germes
Daquilo que somos...
E do que já seremos.







sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Vintedois

existe algo dentro a mim
cá, no profundo mar que me navega
que dita a fome desse naufrágio
que dura mais de duas décadas
visto ilhas desconhecidas
banho-me de pequenas pérolas
areia doce frutas e semblantes macios

são meus companheiros de peripécias
mas é a imensidão que me reina
é ela que me catapulta sempre além
e volto ao mar com saudades imensas
de viver de tormentas e calmarias
das ondas que me embalam
no sagrado silêncio entre a pressa e o sono

chegada a hora de alcançar o porto
de dormir no cais
enquanto as tartarugas madrugam
oceano adentro e vagueia o som
dos meus pensamentos
por entre as folhagens do meu despertar
nasce na aurora um calor distinto

que me embrulha em fogo
e faz brilhar em meu peito
montanha ávida de povoar o leito da terra
com o magma fervente subindo a atmosfera
rugindo luz e rocha e força e fúria e poder e nascimento
foi esta luz tão súbita que me alastrou no seio deste solo-mãe
e agora sou fonte de sonhos de fogo e derramo pétalas de fuligem

quando os olhos marejados
da saudade que bate na encosta
é o mar que canta pra eu dormir em sossego
mas são lágrimas de pedra que eu descanso
do avesso em ondas retorcidas e em descontrole
penetro fértil na terra doce e vocifero palavras estrangeiras
tenho o nome em tropeço, mas avanço, acesa, dentro da noite que ilumino inteira