sábado, 23 de setembro de 2017

Esta sensação que me ocupa 
É um prédio firme se erguendo do chão 
É navalha branca e estéril cortando sem não 
O dedo e o tempo que escapa do dedo 
Como a areia que cobre as praças: 
Pequena amostra do deserto. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

a voz quando murcha dentro do seio,
quando não tem por onde escapar 
e fica retida ali antes da garganta, 
é como um berro que não tem som. 
é só a ideia do berro que sai. 
a minha boca cala e o meu corpo emudece, 
logo aqui onde eu devia gastar minhas palavras, 
virá-las de cabeça pra baixo 
pra ver se em alguma disposição elas fazem sentido. 
mas não. 
dentro do meu seio elas assumem uma negatividade estrangeira. 
e tento fingir um sorriso, 
mas me absorvo em meu silencio caduco. 
experimento a esperteza do toque dos meus dedos no anel. 
é porque às vezes eu sou assim absorta, 
eu calo, 
e logo agora que eu achava que começava a aprender a falar, 
como que extravasando as paredes e os limites do meu quarto, 
e essa conversa esquizo que eu me acostumei a ter com o espelho e os cadernos, 
falando sempre sozinha, 
deixando as palavras mofarem. 
dói agora um pouco elas aqui presas no meu seio 
como que sem importância, 
enfraquecidas. 
de que valem as palavras quando não ditas?
que sou eu se não as palavras que venho cultivando?
e cega, 
amnesia lúcida dos meus sonhos,  
tropeço nos olhares dos outros  
e me perco. 
outro dia ouvi que a poesia é maneira de organizar, 
e pois, estas palavras engolidas, 
(porém ainda minhas!) 
fermentando feito leite,
descobrem algum rumo na escrita, 
esse refúgio que encontro,  
como voltar pra casa e aninhar-se no colo de uma mãe sem nome.