segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Hoje falei seu nome sem querer

Viajo num avião por cima do oceano das imagens
que circulam feito doidas dentro da minha cabeça
Sua cara reaparece na rua no rosto de outras pessoas
mais velhas e mais novas
Faz tanto que não te vejo não sei mais como é seu cheiro
mas sei que se sentisse de novo era capaz de enlouquecer
Volto praquela noite na rede quando eu te vi pela primeira vez
e vc falou alguma coisa sobre neutral milk hotel
Nem consigo respirar entre as palavras que vão se alongando
além do meu dedo nervoso e a falsa calma que vc me trazia
E escrevo isso frenética com meus headphones
devidamente pousados sobre os meus ouvidos
só pra ter um pouco da loucura que ainda salvo com a memória
que ainda guarda um mel todo específico
uma vibe de foto analógica e de coisa que nunca existiu
Não quero mais mentir pro meu corpo tolo
por isso esqueço essas bobagens adolescentes de epifanias apaixonadas
e vou viver o amor denso e forte que vem crescendo no meu peito
que se oferece como maçã madura pra se colher do pé
Não aquele anseio pré maturo das não-palavras
do teu dente pequeno mas maior que a sua boca
Recupero esses momentos salivares porque sou saudosista por vocação
exalto a memória como parte constituinte da minha identidade trans-lúcida
e foi pois tão intenso na minha cabeça e nos pés e nos olhos que viam o céu
e os prédios em que vc apontava uma arquitetura meio comunista ou só o azul
que faço as minhas devidas preces, agradeço e deixo ir

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Quando a amplitude atinge minhas retinas
Dilatando minha pupilas viciadas
E encontro as coisas vibrando, imóveis
Meu pulso acelera
E fraquejo na vontade de ocupar todos os espaços ao mesmo tempo
                                     de perder o controle das pernas
                                     de ser o carro acelerado
                                                a estrada
                                                as estrelas
                                     de correr a 150 km/h
                                     de me jogar na frente de um carro só pra sentir o impacto
Então chego em casa dilatada
E preciso ouvir o som elétrico que sai do laptop
Pra ter qualquer arrepio na espinha
Ainda que meu corpo fadigue
Há uma pequena falta de ar entre
Uma respiração e outra