segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Presente de aniversário pra mamãe

Pra além do tempo e das estrelas
É o amor que tenho por mamãe
Que me nutriu no ventre e na vida
Com seu fio infinito de amor

Minha mãe é loira dos olhos azuis
Eu sou castanha castanha
As engrenagens de mamãe são triângulos
As minhas são círculos

Tem coisas que a gente não escolhe
Como pisar o pé pra dentro

Tem filhos que são pássaros
Tem filhos que são caranguejos

Quando eu era ainda um pingo
Tudo que eu queria era brincar e voltar pro colo da minha mãe
Brincar e colo de mãe

Ai a gente cresce e desaprende a chorar
Fica meio pedra com cachoeira dentro

Mas o amor a gente sente no cheiro
Não importa quantas vezes discordamos brigamos gritamos
Eu sei
O amor é mais fundo que o medo
Eu sei

E quando eu era pingo
Eu tinha medo do escuro
Não morri e agora tenho medo de outras coisas
Como os meus próprios sentimentos

Um trovão que escapa no escuro
Tudo grande ao redor
Minha mãe é o céu
Que abraça o mundo

Ter ternura
Ser certeza

Enorme enorme enorme
Feito um balão
Feito um planeta
É o amor que eu sinto por mamãe

Do jeito que ela cuida de mim
Eu também quero cuidar dela
Por que também tenho flores na barriga
Um oco vermelho de amor

Queria dar a minha mãe de presente
Alguma coisa feita de água e luz
Como uma bolha de sabão sobrevoando nossas cabeças

Queria ao menos dizer pra mamãe
O tanto que eu sinto por dentro
Uma cachoeira rosada
Da boca, a borboleta

Então eu danço com as palavras
Só pra você ver, mãe
Que nem quando eu tinha 5 anos e tava aprendendo inglês
Porque eu te amo mais que tudo nessa vida

Feliz Aniversário


terça-feira, 23 de agosto de 2016

Sonho com meninos
Acordo grávida
Minha barriga é uma caverna de terra úmida e pedras
E os meninos aqui habitam
Amontoados
Um deles me conta um segredo
De que não lembro mais
Organizam um motim aqui dentro
Tem pele quente e são amigos das minhocas
Brincam o dia inteiro
Não tem pai nem mãe
Moram numa caverna dentro da minha barriga

domingo, 7 de agosto de 2016

O útero agora lateja
De correr pra pegar ônibus debaixo do sol
Reclama da exasperação
Corrida de bicicleta no meio da cidade
O útero reclama na contramão
Os russos lideram a corrida
Os russos ainda brigam com os americanos?
Os russos estavam ganhando
E não vi nenhum americano
O útero descansa no ar condicionado do ônibus do metrô
O útero não toma conclusões
Não reclama mais e repousa

Agora que enfim caiu a ficha
Eu posso descarregar minhas lágrimas no oceano
O quanto eu te amei foi mais do que cabia em mim
Foi com cada fio de cabelo
Cada arrepio
A cabeça lateja de tanto chorar, contrair a face em saudade
Do quanto eu te amei
Que era mais do que cabia em mim
Que era mais
E extravasava o peito
E agora dói
Meu amor, dói
Amar é se entregar de peito aberto
Com risco de cair e quebrar a cara
E doer a cara toda
Vale a pena pra caralho

Queria estar na sua rede agora
Mas to toda vomitada no chão do banheiro
Com água quente caindo caindo
Sobrando pedaços de mim pra fora
Com frio
Sentindo você ir embora
Escorrendo pelo ralo
Junto com as minhas lágrimas de amor e saudade
Direto pro oceano
Você merece o atlântico inteiro, meu amor